terça-feira, 7 de setembro de 2010

ELA TEM A FORÇA

'Minha vó e seus 14 filhos'
Um dia desses, tive o prazer de relembrar um texto do Arnaldo Jabor que falava sobre o avô dele. Na verdade, do texto mesmo lembro pouco, mas me recordo bem do significado que imaginei ter, e de uma frase final que poderia resumir todo sentimento. Relembrei e tive um segundo prazer: o de poder contar para outra pessoa sobre.
Bom, isso tudo é só pra explicar que eu resolvi homenagear minha avozinha também, e claro esse texto (ou essa frase) vai me servir como base.
Nunca tive muita aproximação com minha avó, mas eu até entendendo isso, porque se tenho um pouco dela, não poderia agir diferente. Sempre foi ela lá e eu cá; eu prestando atenção em algumas coisas dela, e sei lá se ela prestava atenção nas minhas.
Às vezes, eu até posso dizer que sim, por que um dia -um belo dia, surgiu um interesse dela sobre minha vida e falou: -E aí Nathalia, e os brotos?
E eu respondi: - Que brotos vó, os de feijão??
Mentira, não falei isso não, mas fiquei desconsertada e logicamente o que saiu foi: - Não tem ninguém não.(nunca tem).
Essa pergunta da minha avó até hoje me pasma. Algumas pessoas bem íntimas nem me perguntam isso, e foi justamente uma moça que me criou a vida toda e que eu, supreendentemente,  nunca tinha parado pra conversar, me perguntou. E foi com aquele jeito direto e reto que eu reconheço em mim, muitas vezes.
Eu me reconheço nela e será ela, algum dia, já se reconheceu em mim?
Não sei e também não me interessa saber isso não!
Minha avó não sabe ler, tampouco escrever, acho que talvez saiba escrever o nome dela, não tenho certeza. É uma pessoa que viveu pra cuidar de 14 filhos e um marido que passou uma boa parte da vida doente. Quando ele se foi, ela, coitada, se foi também. E nisso todos resolveram pegar o bonde...
Hoje, aquela mulher toda forte e dura na queda é frágil, procurando algo que possa mudar sua vida ou tirá-la de vez.
Um desejo meu seria contar de poesias e mostrar pra ela do que eu gosto realmente. Queria que ela entendesse essas coisas e tivesse paciência pra isso tudo. Mas ela nem tem mais, infelizmente no momento ela só reclama e eu até dou apoio. Poxa, uma mulher que já viveu pra caramba, que sofre por dentro e por fora não tem o direito de reclamar? "Isso mesmo vó, fala mal de todo mundo, você tá no seu direito. (mas depois não esquece de agradecer por tudo, pra quem você bem sabe).
Ainda tenho algumas coisas pra resolver com minha avó, pra falar pra ela, pra fazer com ela...mas enquanto isso não acontece, me dou o direito de mudar uma pouquinho o trecho do Jabor e dizer: Minha avó não é ninguém. Mas não há ninguém como ela.

3 comentários:

  1. Ontem teve um repentino apagão por aqui na rua. Nunca corversei tanto com a minha avó como ontem, e provavelmente isso não ocorrerá dessa maneira novamente. Também me fez pensar.

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  2. Excelente Nathalia, adorei a forma que escreve e principalmente o que escreve.
    Me fez parar principalmente aqui:
    "Queria que ela entendesse essas coisas e tivesse paciência pra isso tudo."
    Isso é tanto verdade para todos nós. Quanto gostaria de mostrar para as pessoas que mais amo, o que vejo da forma que vejo e nao conseguimos. Talvez menos ainda enxergar com os olhos deles.

    Enfim, adorei!

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